sábado, 25 de março de 2017

Procuram-se exploradores de games

Share & Comment


Mandando a real desde o início: se você entrou nesse link achando que o Insira a Ficha estava oferecendo emprego, infelizmente vai se decepcionar. Ainda não somos uma equipe rentável e, para falar a verdade, nem sei se podemos alcançar a categorização de equipe.

Estamos aqui mais uma vez para reclamar da cobertura de games que nos é imposta. Eu sei que já falamos sobre isso em um programa sensacional, no qual o Tadeu quase saiu no tapa com o editor da IGN (sério, confere lá depois), mas aqui pretendo abordar um ponto esquecido naquela fatídica discussão, afunilar um pouco o assunto: por que não tem ninguém descobrindo games nessa internetzona da porra?

Como assim? Você pergunta.

Pois então. Estava eu lendo a seção de economia do Estado de São Paulo, quando me deparo com o texto traduzido do The Economist entitulado "O paradoxo da escolha". Na reportagem, vemos como a quantidade de filmes/séries disponíveis para o público é inversamente proporcional a quantidade de filmes/séries vistos. Sim, isso é muito Black Mirror. Resumindo em palavras pouco The Economistescas, a galera, ao ver que tem tanta coisa, mas tanta coisa sendo produzida e pronta para ser consumida, acaba optando pela escolha fácil, que são os blockbusters e os sucessos de crítica. E agora resumindo em palavras pouco jornalísticas de qualquer publicação, quanto mais filmes independentes feitos pelos graduandos de cinema, mais views "Moana" vai ter.

Gearend: linda arte em bits, nenhuma análise na Steam.


Tá, mas e os games? Será que isso também acontece? Infelizmente não posso provar com números, como fez a matéria citada acima. Mas, para nossa alegria, tem um cara que pode: Matthew Jerris, da Develop Online. De acordo com ele, está cada vez mais difícil fazer sucesso na Steam. Enquanto a quantidade de jogos indies disponíveis na plataforma quase dobrou, a média de vendas desse mesmo tipo de game caiu de 5400 para 2800 cópias. Isso porque ainda não adicionei outro dado importante: você sabia que 38% dos 13 mil jogos disponíveis na Steam foram lançados no ano passado.

Ou seja, resumindo mais uma vez em palavras pouco jornalísticas de qualquer publicação, quanto mais jogos feitos por uma pessoa ociosa com conhecimentos básicos da Unreal Engine, mais gente vai comprar a versão anual de Assassin's Creed, infelizmente.

Alguns podem dizer que parte da culpa dessa queda é a crise. Mas, meu filho, sejamos realistas: se as vendas de game no varejo brasileiro, com sua pior recessão nos últimos anos, caiu "apenas" 17,7%, como você acha que o Japão e os Estados Unidos estão? Fazendo a indústria crescer 8,5% ao ano, baby!



Se você ainda não estiver convencido, esse "paradoxo da escolha" pode ser visto também ao compararmos os mais vendidos do ano. Em 2014, o jogo mais vendido, de acordo com o VGChartz, foi Pokémon Omega Ruby & Alpha Saphire (3DS), com 7,5 milhões de cópias vendidas ou alugadas. Já em 2015, o topo do pódio ficou com Call of Duty: Black Ops 3 (PS4) com 9,5 milhões e, no ano passado, mais uma vez a Nintendo liderou as vendas com Pokémon Sun & Moon (3DS), que foram adquiridos 12 milhões de vezes. Enquanto isso, nos indie games...


Quando falei sobre isso com um amigo que não preciso identificar, ele disse que "isso é normal e que o mercado se autorregula". Ou seja: agora, com a demanda em alta, os desenvolvedores vão ter mais dificuldade de lucrar e acabarão tendo que abaixar os preços ou não investindo at all em novas produções. Com poucos lançamentos, vai ter um momento que a demanda vai estar baixa, a procura vai estar alta e os jogos independentes vão ter seu ápice mais uma vez. É só esperar. Esperar que os jogos independentes, que são a maior fonte de inovação da área, voltem a dar lucro.

Não sei vocês, mas eu não quero esperar anos para ter um novo Undertale.

Mas o que nós, jornalistas de games, podemos fazer? Tenho plena consciência de que existem por aí sites especializados como IndieDb e IndieGames.com, dos quais eu também tenho plena consciência de que você NUNCA entrou. Na "grande mídia", também conseguimos encontrar editorias indie, como o Steamed do Kotaku, que de vez em quando descobre um novo indie escondido. E até no Brasil é possível ficar informado sobre alguns lançamentos pelo canal Nautilus e sua Janela Indie. Só que isso não é o bastante: a cobertura desses veículos fica restrita a jogos encontrados em feiras de games, jogos produzidos por ex-desenvolvedores de grandes empresas, jogos extremamente curiosos e sucessores espirituais de outros títulos.

Crisis in the Kremlim: jogo de estratégia desconhecido com 100 análises muito positivas

É sério: eu, que sigo os principais canais e portais, fiquei sabendo, no ano passado, de 10 lançamentos independentes: Inside, That Dragon, Cancer, The Witness, Firewatch, Stardew Valley, Superhot, Owlboy, Enter the Gungeon, Darkest Dungeon e Stephen's Sausage Roll (esse último, escondido no feed de notícias). Uma dezena dos milhares de jogos lançados no último ano.

Sei que é impossível noticiar todos os lançamentos e que há muita coisa ruim no meio dos jogos indies, que não são dez mil maravilhas esperando para serem descobertas. Mas e os "diamantes" escondidos no meio do carvão?

Agora vem a parte utópica e bela: eu acredito que a solução é reviver o flâneur. Para quem não sabe, o flaneurismo é um dos principais antecessores do jornalismo e significa andar e vagar pelas ruas observando tudo e todos. Acreditavam (galera inocente) que, com a criação da internet, nasceria a figura do flâneur 2.0, explorador e desbravador da web ou até de deepweb, mas o Google nos deixou preguiçosos e ele nunca passou de uma ideia. Porém, acredito que possamos ter um flâneur de jogos indie, uma pessoa que explore essa infinidade de lançamentos para achar aqueles títulos escondidos. Alguém que encontre os diamantes. Não seria lindo?

Don't drop the Bass: GENIAL. Apenas.


Mas assim como acredito que isso ia ser lindo, também acredito que isso nunca vai acontecer. As redações (e os pequenos blogs), nunca abririam uma vaga para esse flâneur. Para que gastar dinheiro com um explorador se existem tantos jogos sendo lançados e divulgados? Não importa se demorará anos para termos outra obra-prima dos jogos se daqui a pouco vai lançar Gears of War 5 e Ultra Mega Super Street Fighter V 2.0 HD Remake, né?

Enfim, deixo aqui a reflexão.

Coluna por Luiz Fernando Menezes.
Tags: , , ,
Logo Insira a ficha

Escrito por

Núcleo de jornalismo de tecnologia e games da Universidade Federal de Santa Catarina. Criado por estudantes, coordenado por estudantes e mal redigido por estudantes

Comente com o Facebook:

 

Contato

Fale com a gente pelo email insiraaficha@gmail.com para tirar dúvidas, relatar erros, dar sugestões, críticas e elogios!
Copyright © Insira a Ficha | Inspirado no Design de Templateism.com